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sábado, 5 de janeiro de 2013

[TSF] «Nova Teoria do Mal», de Miguel Real

O escritor Miguel Real está zangado e não o esconde. Pior do que isso: está revoltado. Miguel Real é romancista, crítico literário e professor de Filosofia. Esta Nova Teoria do Mal é um ensaio filosófico, escrito em estado de revolta, como o próprio autor confessa na introdução.

Uma espécie de atualização das teses de Hannah Arendt, a filósofa judia alemã que criou o conceito de "banalidade do mal", aquele princípio que tornou possível haver pessoas comuns a fazerem com que tudo funcionasse na perfeição de modo a que os comboios que levavam gente para os campos de concentração nazis andassem a horas.

Miguel Real vive em Sintra, é utente da CP e foi nessas viagens suburbanas de comboio que sentiu a necessidade de escrever sobre o mal. «Lamento» - escreve Miguel Real - «que o leitor não possa sentir o cheiro das camisas suadas das negras minhas vizinhas de comboio, que, como escravas, nos lavam as retretes e aspiram e enceram os nossos corredores, e que lamento que o leitor não possa contemplar o olhar aguado de tristeza, resignação e frustração dos milhares de velhos de Mem Martins e do Cacém que, após uma vida de 40 ou 50 anos de trabalho, recebem da comunidade umas parcas 30 moedas de Judas para que não caiam mortos de fome a cada esquina. Lamento. Se eu tivesse tido esse talento, o leitor não precisaria de ler este livro: sentiria e contemplaria sem intermediação a face do mal.»
Livro do Dia: «Nova Teoria do Mal», de Miguel Real, edição D. Quixote.

    

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