Tempo em Algueirão Mem Martins

segunda-feira, 4 de julho de 2016

[Correio da Manhã] Um Boeing de 300 euros

Marilinda, proprietária, estava ao balcão, enquanto o marido conversava com um cliente, num local mais afastado. "aaa, irrompeu um jovem pela porta do café de Casais de Mem Martins, concelho de Sintra. Em segundos se perceberia, porém, que o tão bem educado rapaz não chegava com as melhores intenções. “Ora, então, o que vai ser?", perguntou a mulher, de 59 anos. "Todo o dinheiro da caixa", respondeu o afinal assaltante, aí já bem menos cortês. É que nem sequer um ‘se fizer o favor’   a terminar o pedido, efetuado com uma pistola apontada à cabeça da vítima. A comerciante não teve outra solução que não fosse abrir a registadora e entregar ao criminoso a quantia que ali guardava. Eram 300 euros, mais coisa, menos coisa, um valor que já deixou satisfeito o falso cliente, preparando- -se para escapar com um rasgado sorriso nos lábios. 

Adolfo, o companheiro de Marilinda, é que não esteve pelos ajustes ao aperceber-se do que se estava a passar. Qual pistola, qual quê? Pegou numa cadeira que se encontrava a jeito e acertou com perícia nas costas do assaltante. Menos sorridente e sem tempo para queixas, o jovem, embora agora meio de lado, continuou a heróica fuga pela estrada fora e mal sabendo o que ainda o esperava. Um amigo dos donos do café, que assistira a toda a cena, arrancou no seu automóvel e, azar dos azares, ‘esqueceu-se’ de travar ao aproximar-se do suspeito. Se "até as vacas podem voar", senhor primeiro-ministro António Costa, devia ter visto este ladrão a imitar um Boeing 747. O rapaz lá aterrou e também logo se levantou, revelando uma perseverança digna do melhor atleta de decatlo. Agarrado ao dinheiro e à arma e apesar dos visíveis ferimentos, conseguiu escapar, com a ajuda de um comparsa que tinha ficado à espera nas imediações. Uma cansativa corrida, uma cadeirada, um atropelamento e, muito provavelmente, vários ossos partidos depois, o homem conseguiu levar os 300 euros. O problema? As contas de subtrair. Desde logo, ter de dividir com o cúmplice que o salvou. A seguir, do que restar da pequena fortuna, gastar uma grande parte em pomadas e analgésicos, no melhor dos casos. Ou numa cirurgia para retirar a costela de um pulmão perfurado, no pior cenário. Afinal, bem vistas as coisas, o ladrão corria o risco de não ter trabalhado sequer para uma boa sandes de mortadela. Razão tem o outro: assim, mais vale pedir do que roubar. Ufa.

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